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Consumo de Opiáceos - A Heroína

​“Dentro de uma hora, oh céus! Que extraordinária mudança! Que ressurgimento das mais inatingíveis profundezas do espírito! Que revelação do meu mundo interior. O fato de as minhas dores terem desaparecido pareceu-me então uma insignificância. Esse efeito negativo foi consumido no abismo de um prazer divinal subitamente revelado. Aqui estava a panaceia para todo e qualquer sofrimento humano; aqui estava o segredo da felicidade."
Thomas de Quincey – Memórias de um Comedor de Ópio

​A heroína é obtida a partir do ópio. O ópio é um líquido extraído das cápsulas da papoila do ópio (Papaver somniferum). É obtido por uma incisão superficial na cápsula da papoila. De cada cápsula de papoila podem recolher-se entre 10-100 mg de ópio. O ópio contém mais de 20 alcalóides activos, entre os quais a morfina (9-17% do total), codeína (0,5-4%), noscapina (2-9%), papaverina e a tebaína.
A evidência mais antiga do cultivo da papoila tem 5.000 anos e foi deixada pelos Sumérios. A papoila é descrita num ideograma dessa época como “a planta da alegria”.

Numa tumba egípcia do Séc XV a.C., foram descobertos resquícios de ópio. Aproximadamente na mesma época havia plantações de ópio ao redor de Tebas, justificando que o produto de origem egípcia fosse conhecido como “ópio tebaico”.
Poetas famosos, como Shelley, Baudelaire e Edgar Allan Poe, eram dependentes de ópio. Nas artes, são inúmeros os exemplos de consumidores de heroína.

A partir do ópio é extraído o primeiro alcalóide conhecido, a morfina, nome dado por Serturner em 1806 em homenagem a Morfeu, deus dos sonhos, do sono (hipnos) e da noite. Serturner acabará por morrer morfinómano.

Manipulando quimicamente a morfina, Dresser, em 1898, sintetiza pela primeira vez a heroína e a substância é colocada no mercado pela Bayer sendo as suas principais indicações terapêuticas os acessos de tosse da tuberculose e o combate ao morfinismo. Dresser viria a morrer heroinómano.

Ópio - Morfina - Heroína
Para que o ópio possa ser fumado, forma clássica de consumo, deve ser cozido. É colocado em água em ebulição, passa através de uma peneira para remover as impurezas e é obtido um fluido de ópio. Este fluido é novamente aquecido até a água evaporar e o ópio bem cozido está pronto para fumar.
A morfina obtém-se deste preparado. O ópio é novamente fervido e adiciona-se óxido, hidróxido ou carbonato de cálcio, para precipitar os alcalóides não morfínicos. Este líquido é filtrado, novamente fervido e é adicionado cloreto de amónio para precipitar a morfina.
Esta base de morfina contém 50-70% de morfina. A esta base, adiciona-se ácido clorídrico para obter cloridrato de morfina.
São necessários 13 Kg de ópio e um dia de trabalho para se obter quilo e meio de cloridrato de morfina.

A heroína é obtida a partir quer da base, quer do cloridrato de morfina.

O consumo ocasional de heroína tem um grande potencial aditivo. Para além de factores sociais e vulnerabilidades pessoais, o mecanismo de consumo é mantido por dois tipos de reforço: O reforço positivo, isto é, o prazer, intenso e imediato que proporciona, e o reforço negativo, a desaparição dos efeitos de privação.


Tratamento


O tratamento da dependência de heroína exige duas fases: a desintoxicação e a prevenção dos consumos.
A desintoxicação pode ser feita em casa, sob supervisão e acompanhamento. É uma fase que pode provocar grande sofrimento físico se não for administrada medicação de suporte (analgésicos opiáceos e benzodiazepinas). Com medicação de suporte o sofrimento físico causado pela abstinência é eliminado.
A prevenção dos consumos é feita com o recurso a antagonistas opiáceos, substâncias que impedem o efeito da heroína.
Na primeira fase, a desintoxicação, é fundamental que não sejam efectuados consumos durante uma semana. A ausência de consumos pode ser garantida através de supervisão e de testes de urina.
Na segunda fase, a administração do antagonista deve ser feita sob supervisão cuidadosa ou através de implante dérmico, para evitar a fuga à toma ou o vómito intencional imediato.

A componente essencial de um processo de tratamento é a componente psicológica. O paciente deve ser apoiado em todas as fases do processo e particularmente nos períodos em que o risco de recaída é maior.